19 janeiro, 2006

Poema dum Funcionário Cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só.

António Ramos Rosa

7 Comments:

Blogger Krishen said...

You're staying up too late! :D

1/19/2006 4:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Portuguese time!!! you know that right??? ;)

1/19/2006 4:04 da tarde  
Blogger Krishen said...

I do... you were just saying you were tired that's all :)

1/19/2006 9:30 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A Gente Vai Continuar
Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar...



Jorge Palma, 1982


escrito no mesmo ano que tu nasceste...um poema para tu engolires logo à primeira e "vomitares" esse que postaste ai, que só faz mal àquilo de tão bonito que estás a viver agora ;)

beijos da tua mana preferida!

1/20/2006 2:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Toma atenção ao q a tua irmã te diz... Não sei como uma menina tão novinha diz coisas tão acertadinhas... É pena é estar a retirar ideias de textos de um pseudo-intelectual de esquerda alcoolatra... mas enfim, isso passa-lhe. Aproveita essa experiencia que como tudo um dia vai ter de enevitavelmente acabar... A vida tem altos e baixos, não se pode fazer nada, é mesmo assim... bj, C.

1/20/2006 3:18 da tarde  
Blogger Mood said...

sim é verdade que ás vezes me sinto triste aqui, no entanto a razão de ter posto o poema foi só porque acho muito bonito..e queria partilher com vocês as coisas de que gosto!

Por isso não se preocupem (vocês os dois) que eu sou uma rapariga valente!

;)

1/20/2006 11:35 da tarde  
Blogger Krishen said...

Hey... is that a new look for the blog? I like it!

1/21/2006 2:51 da manhã  

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